Eu sou o acrobata do banco da frente e só você me vê.
Escuto coisas e faço contorcionismo no porta-luva
Estavam lá nossos sentimentos…
fuscas amigos de rocks não são afeitos a restos de tempo
Fui muito.
Errei de movimento me guardei naquele presente
lúcido como um amigo em fim de feira
livre!
fui quase fim.
Você não vê, mas eu observo o que aparece. e
desaparece no reflexo do espelho.
(Seus gestos)
No rádio:
Detalhes tão pequenos
De nós dois
São coisas muito grandes
Prá esquecer
Vou deixar as janelas fechadas e abrir o gás do fogão
Você pensa que eu me fui.
Fui-me sim
Não
Eu vou descendo
Por todas as ruas
E vou tomar aquele
Velho navio
Eu não morri, quem morre é idiota.
Peguei foi um foguete
Aqui tava careta demais
O difícil é não cortar o cabelo quando
A barra pesa.
Você pediu pra eu tomar maracujina
Tomei heroína
Agora quem parte é você
Impávida e com a boca gelada
Eu estou livre pra cheirar
fumar
tomar
me furar
cair
tu partes em busca do nada
Eu jogo com os dados.
(Solon Ribeiro)
eu não sou acrobata do banco de trás porra nenhuma. não tenho mãos para o vidro. mãos amarradas não são mãos. nãos. sinto muito esse cinto frouxo que deixa minha pança mole entre o suor e o desconforto. depósito de nervo e urina. se vejo alguém lá fora, são incêndios que invento, enquanto o banco de trás é o mesmo banco da frente é o mesmo banco da praça onde eu pegava nos peitos de rose e tremia por dentro. o acrobata é esse, o que acende o passado pra não ver o mundo – presente de grego – lá fora enquanto o carro acelera lento e o caixa eletrônico do banco de trás é um monte de ferro e plástico cercado de senhas por todos os lados. ei, carlos, pára com isso, põe o pé no freio! eu já gozei muitas vezes com palavras perversas. de pé, versos! todo poema que presta é um exército de uma guerra inevitável. grito: estou à beira do abismo do banco de trás. eu sou o não banco que carlos inventou pra virar um manual acrobata. e esse poema é quase meu, agora mais ainda. o jogo está apenas no começo. diga isso comigo. eu sou o desacrobata de gravata. o palhaço do circo do vazio. quem ri por último ri pior. o acrobata é o motorista que dança desgovernado pelas ruas que andei. eu sou apenas um vaga-lume latino americano ao meio-dia. meia-luz que ninguém vê. pérola porca, poeira em alto mar. terra à vista! felizmente. não diga isso comigo.
(Celso Borges)
Dois sintomas deste maravilhoso descontrole das acrobacias. Dois poemas que mereciam estar postados no mesmo lugar. Eles se complementam. Eles se repelem. Eles são finesse e deboche. Eles provocam a si. Eles provocam a acrobacia. São o salto e a queda. Acima, Solon Ribeiro, espécie de anti-fotógrafo, artista às avessas, desafinador de coros, de contentes e caretas. Nos castelos de areia da cidade com nome de forte, Sólon é o sopro e o chute. Abaixo, Celso Borges, do mesmo naipe, da mesma esfera provocadora. Uma hora, os poemas de Celso embalaram 365 mil paixões mal curadas. Noutra, são puro punk rock. Esta é a versão punk rock da acrobacia.
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